Coruche
é uma vila ribatejana do vale do Sorraia, no sul de Portugal.
A
presença humana na região remonta ao período paleolítico. Alguns
autores atribuem a fundação da povoação aos galo-celtas, cerca de
300 anos antes de Cristo. No entanto, é mais aceite que terá sido
estabelecida durante a época romana de pacificação das zonas
conquistadas. No período islâmico possuiu um castelo, destruído em
1180, cuja memória subsiste na Ermida de Nossa Senhora do Castelo,
no monte sobranceiro à vila. D. Afonso Henriques, primeiro rei de
Portugal, conquistou Coruche aos mouros em 1166 e doou-a em 1176 à
Ordem de Avis. Dada a sua importância, Coruche tinha representação
nas cortes. Recebeu forais de D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D.
Afonso II e D. Manuel I.
As
formas mais antigas do nome de Coruche foram Culuchi ou Coluchi.
Posteriormente encontram-se Coluchio, Cruche e Coruche. JoaquimSilveira
liga o topónimo ao monte onde se localizou o castelo:
«Elevado
monte, em cujo cimo se erguia o castelo medieval de Coruche e a que
este castelo e a respectiva torre de atalaia, que havia de ter,
dariam ainda uma maior eminência, levam-me, para explicar o seu
nome, a aproximar o topónimo Coruche do nosso vocábulo comum
corucho, que tem o sentido genérico de extremidade alta e acuminada
de alguma coisa, picoto, coruto.»
O
dicionário de toponímia da Infopédia
atribui uma etimologia incerta a Coruche, mas podendo derivar de
corucho, “cume, torre”. Ferraz
de Carvalho
derivava o nome de Coruche do latim collotium,
“celeiro ou armazém”, que originou a forma intermédia Coluchi.
Em
concordância com a opinião sobre algo alto temos nos dicionários:
Corucho:
coroça ou croça com capuz (no Minho); parte mais alta das árvores;
coruto; espécie de carapuça de palha com que se cobre a parte
superior da meda; o mesmo que curucho.
Corucha:
coruta, cimo; parte superior do palheiro.
Confrontando
coruchéu
(do francês clocher,
campanário): parte mais elevada de uma torre ou de um campanário,
geralmente com remate pontiagudo; zimbório; torre ou torreão que
coroa um edifício; remate piramidal de edifício; minarete; barrete
cónico dos penitentes da Inquisição. Clocher
em francês é campanário ou torre sineira.
«Pedro
A. Ferreira entendia que o apelativo coruja
está, não só na base de Coruche,
mas também na de muitos outros topónimos: “Coruche
é deturpação de Corucho
— e este de corujo
por coruja
— ave nocturna”.
J.
P. Machado, que atribui a coruja
etimologia obscura, informa que curugios
se documenta em 1085 e curugeira
em 1101, como topónimo. Quanto a Coruche,
diz desconhecer a sua origem, mas aventa a hipótese de se tratar de
um nome arábico, ou mais provavelmente arabizado, isto é,
pré-arábico mas passado pela fieira do idioma arábico, cuja forma
mais antiga — Coluchi
— data de 1268.»
«Pedro
de Azevedo recolheu no Glosario
de Simonet um “número avultado de palavras românicas
influenciadas pela pronúncia árabe, que se conservam entre nós
como nomes de lugares” e que, nalguns casos, são “apelidos de
proprietários que se fixaram nas terras que lhes pertenciam por
qualquer título.” Entre esses antropónimos figura, como já foi
referido, Cruch
‘Cruz (apelido)’, a que o Autor atribui a etimologia de Coruche
(distrito de Santarém)».
«Tendo-se
verificado hesitações quanto à origem do nome em causa — em
c(o)rucho
/ -che
‘elevação de terreno arredondada’ ou em c(u)ruch
‘cruz’ e apelido — já não há razão para dúvidas quanto ao
cunho foneticamente moçárabe de Coruche.»