29 March 2015

Anho, cordeiro ou borrego

Dentro do território de qualquer língua existem diversas áreas lexicais, como parte da variação diatópica. Neste mapa temos o exemplo de Portugal continental para a palavra que designa a cria da ovelha. Os dados baseiam-se nos inquéritos realizados pelo eminente filólogo e linguista português Luís Filipe Lindley Cintra, em 1953 e em 1954, na companhia do galego Aníbal Otero Alvarez, para a parte portuguesa do Atlas Linguístico da Península Ibérica.
Os três nomes para a cria de ovelha são, conforme as regiões, anho, cordeiro e borrego.
Anho corresponde à denominação latina agnus. 
Cordeiro provém do adjetivo latino vulgar *cordarius (ou *chordariu), derivado de cordus (ou chordu), «tardio», «tardio em nascer», porque os agni cordi eram os cordeiros nascidos tardiamente, em fevereiro em vez de novembro ou dezembro. 
Borrego deriva de borra, «lã grosseira», do latim tardio burra ou burru, através do castelhano borrego.
A ovelha (Ovis aries) é um mamífero ruminante bovídeo da sub-família Caprinae. O macho é chamado carneiro. As crias são, como vimos, designados anhos, cordeiros ou borregos.
A palavra ovelha veio do latim ovicula, diminutivo de ovis, portanto «ovelhinha».
Carneiro tem origem no latim *carnariu, «[animal] de boa carne».

As raças autóctonas de ovelhas portuguesas são as seguintes:

  • Bordaleira de Entre Douro e Minho;
  • Campaniça - origem na região de Campo Branco, Alentejo; ovino proveniente de Ourique, no Alentejo;
  • Churra algarvia;
  • Churra badana - origem em Trás-os-Montes;
  • Churra da Terra Quente - origem em Trás-os-Montes;
  • Churra do Campo - origem na região da Beira Interior;
  • Churra do Minho;
  • Churra galega bragançana - origem em Trás-os-Montes;
  • Churra galega mirandesa - origem em Trás-os-Montes;
  • Merino branco - origem no Alentejo;
  • Merino da Beira Baixa - origem na Beira Interior;
  • Merino preto - origem no Alentejo;
  • Mondegueira ou churra mondegueira - origem na área do Alto Mondego; também conhecida por terrincha ou tarrincha;
  • Saloia - origem na região de Lisboa e concelhos limítrofes;
  • Serra da Estrela.

Algumas definições:

  • Bordaleiro - diz-se de carneiro ou ovelha de lã crespa, de qualidade inferior (regionalismo).
  • Churra - lã em rama, grossa e suja.
  • Churro - carneiro ou ovelha cujas patas e cabeça estão cobertas de lã grosseira e comprida (regionalismo). Diz-se do carneiro ou da ovelha que tem a lã mais mesta e menos encrespada que a raça merina. Do latim sordidu, «sujo».
  • Merino - raça de carneiros muito apreciada pela qualidade superior da sua lã. Do árabe merini, pelo castelhano merino.

Na Galiza existe a raça autóctona ovelha galega.

Provérbios e expressões idiomáticas

  • Abelha, ovelha, pena atrás da orelha e parte na igreja, desejava para seu filho a velha.
  • Abelhas e ovelhas têm suas defesas.
  • Agora, que tenho ovelha e borrego, todos me dizem: Venhais embora, Pedro.
  • Anho manso mama a saa ovelha e mais a alheia. (Galiza.)
  • Ano de ovelhas, ano de abelhas. 
  • Antes perder a lá que o carneiro.
  • Até ao Natal salto de pardal, de Natal a janeiro salto de carneiro e de janeiro a fevereiro salto de outeiro.
  • A carneiro, só peças lã.
  • A cordeiro estranho, não recebas em teu rebanho.
  • A mulher e a ovelha, com o sol à cortelha.
  • A lã não pesa à ovelha, e a barba não pesa ao bode.
  • A mais ruim ovelha é a que suja no terrado.
  • A mais ruim ovelha de facto suja o tarro.
  • A pescada de janeiro, vale um carneiro.
  • A raposa ama enganos; o lobo, cordeiros; e a mulher, louvores.
  • Basta uma ovelha ranhosa para perder o rebanho.
  • Borreguinha mansa mama a sua teta e a alheia. 
  • Cada ovelha com a sua parelha.
  • Coitados dos cordeiros, quando os lobos querem ter razão.
  • Cordeiro manso, mama a sua mãe e a alheia. 
  • Cordeiro manso mama a sua ovelha e a alheia. (Galiza.)
  • De Santa Luzia ao Natal, um salto de pardal, de Natal a janeiro, um salto de carneiro.
  • Donde o lobo come a ovelha, deixa o rastro dela. (Galiza.)
  • Do Natal a janeiro, um salto de carneiro.
  • Duma ovelha negra sai um anho branco. (Galiza.)
  • Em abelhas e ovelhas não metas o que tenhas, mas, podendo ser, nunca estejas sem elas. (Galiza.)
  • Em janeiro cada ovelha com seu cordeiro.
  • Em janeiro os dias têm saltos de carneiro.
  • Em janeiro seca a ovelha no fumeiro.
  • Em janeiro sabem as berças como carneiro. (Galiza.)
  • Em janeiro sabe o caldo a cordeiro. (Galiza.)
  • Em janeiro saltinho de carneiro.
  • Em janeiro veste pele de carneiro.
  • Enquanto disputam os cães, come o lobo a ovelha.
  • Entradas de leão, saídas de sendeiro.
  • Fez do lobo o guardião de ovelhas.
  • Fraca é a ovelha que não pode com a lã.
  • Lobo com pele de cordeiro.
  • Março marção, de começo cordeiro e ao fim leão. (Galiza.)
  • Muitas vezes duma ovelha moura nasce um cordeiro branco. (Galiza.) 
  • Não é pela ovelha, que é pela lã dela. (Galiza.)
  • No Natal, cada ovelha ao seu corral. (Galiza.)
  • Onde o lobo acha um cordeiro, busca outro. 
  • Ovelha cornuda e vaca barriguda, não troques por nenhuma.
  • Ovelha de casta, pasto de graça e o filho da casa.
  • Ovelha farta do rabo se espanta.
  • Ovelha farta, com o seu rabo se assusta.
  • Ovelha gafeira / gafeirosa deseja gafeirar um cento.
  • Ovelha prometida não diminui o rebanho.
  • Ovelha negra / Ovelha negra da família.
  • Ovelha que bale, perde o bocado.
  • Ovelha que barrega, perde o bocado.
  • Ovelha que bale, bocado que perde.
  • Ovelha que berra, bocado que perde.
  • Ovelha que é do lobo, Santo António não guarda.
  • Ovelha que leva o lobo, levada vai. (Galiza.)
  • Ovelha ruim bota o rebanho a perder.
  • Ovelha ruim tolhe as outras.
  • Ovelha velha e colmeia pobre no mês de maio morre. (Galiza.) 
  • Ovelha velha e cortiço pobre no maio morre. (Galiza.) 
  • Ovelhas bobas, por onde vai uma vão todas.
  • Ovelhas não são para o mato.
  • Ovelhas não se fazem para o mato.
  • Ovelhas poucas, ovelhas loucas. (Galiza.)
  • Ovelhinha mansa mama na sua teta e na do vizinho.
  • O anho que diante nasce, diante pasce. (Galiza.)
  • O bom pastor tosa as ovelhas, mas não as esfola.
  • O luar de janeiro, é claro como um carneiro; mas lá vem o de agosto que lhe dá pelo rosto.
  • Pelo São Mateus faz conta das ovelhas, que os borregos são teus.
  • Queijo, de ovelha; manteiga, de vaca; leite, de cabra.
  • Quem se faz de cordeiro será comido pelo lobo.
  • Tola é a ovelha que com o lobo se confessa.
  • Uma má ovelha deita um rebanho a perder.
  • Uma ovelha má põe um rebanho a perder.
  • Uma ovelha morrinhenta num rebanho, perde as outras que acompanham.
  • Uma ovelha ranhosa deita um rebanho a perder.
  • Uma ovelha ruim bota um rebanho a perder.
  • Uma ovelha ruim deita um rebanho a perder.
  • Uma ovelha tinhosa faz todo o rebanho tinhoso.
  • Vai-te embora fevereiro, que me não deixaste nenhum cordeiro.

http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/historia-da-lingua-portuguesa.html

No comments: