08 April 2015

Tourém e Piconha

Tourém e o vale do rio Salas
Tourém é uma aldeia e freguesia do concelho de Montalegre, na região do Barroso, em Trás-os-Montes, Portugal. A freguesia, que só na sua parte meridional não é rodeada pela Galiza, limita com os concelhos galegos de Moinhos e Calvos de Randim. É a única povoação portuguesa situada na vertente norte da serra do Gerês, dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O extremo norte da freguesia é o único território português localizado na margem direita do rio Salas, estando assim essas terras separadas do resto do país pelas águas da Barragem de Salas. Sendo apenas acessível através de uma ponte, esse território é uma espécie de exclave português no Estado Espanhol, na comunidade autónoma da Galiza.
Mapa de Tourém, com Guntumil e Randim
Tourém já existia antes da fundação do Reino de Portugal. No século XII estava sob a tutela do castelo da Piconha e pertencia ao seu termo. D. Sancho I atribuiu carta de foral à vila de Tourém, entre os anos de 1185 e 1211. O foral determinava a vigilância da fronteira, a partir do castelo da Piconha, e a ligação de Tourém, através do Caminho Privilegiado (neutral), ao território do Couto Misto (constituído pela povoações de Santiago de Rubiães, Rubiães dos Mistos e Miãos). No foral de S. Sancho I, em 1187, São Paio de Piconha é elevada à categoria de vila. Neste período terá sido construído ou ampliado o castelo da Piconha. Este castelo localizava-se, no outeiro de Almena, a leste da atual freguesia portuguesa de Tourém, entre as aldeias de Pena (já desaparecida), Vilar, Vilarinho e Randim, ou seja no atual município galego de Calvos de Randim. O castelo da Piconha, com uma altaneira torre de menagem cujas vistas dominavam toda a parte norte do vale do rio Salas, era a cabeça do termo ou Terras da Piconha, defendendo também o Couto Misto. Em 1221, as forças de D. Afonso IX de Leão atacaram Chaves e arrasaram a Piconha. Em 1325, D. Afonso IV de Portugal concedeu-lhe privilégios. O castelo foi reconstruído em 1388 por ordem de D. João I. No reinado de D. Manuel I, em 1515, a Piconha recebeu o Foral Novo.
Detalhe de mapa de Portugal e do Brasil, de Johann Homann, de 1704. Dentro da fronteira portuguesa encontra-se assinalada Apiconha.

Detalhe de mapa do Reyno de Galicia, de 1784, com a fronteira toda a sul do rio Salas.
Por volta de 1650 desapareceu o castelo da Piconha, destruído pelos castelhanos nas campanhas da Guerra da Restauração da Independência de Portugal (1640-1668). Tourém torna-se nessa época a sede administrativa da Honra de Tourém — uma das seis honras do Barroso (as outras eram Gralhas, Meixedo, Padornelos, Padroso e Vilar de Perdizes). Então a designação de concelho do Castelo da Piconha passa a ser concelho da Honra ou Vila de Tourém. Na Guerra Peninsular as tropas napoleónicas na região destruíram a documentação sobre as origens e a história do castelo, tal como no Couto Misto. No outeiro da Piconha subsistem as ruínas dos alicerces do castelo. São visíveis partes de dois lanços de escadas, assim como a cisterna escavada na rocha no alto do bloco do morro granítico.
Em 1836 a reforma administrativa de Passos Manuel extingue o concelho de Tourém, passando a constituir uma freguesia do concelho de Montalegre.
Com a assinatura do Tratado de Lisboa, de 1864, também chamado Tratado de Limites, entre os reinos de Portugal e Espanha, a zona a leste de Tourém onde se localizam as ruínas do castelo da Piconha passou para soberania espanhola, assim como praticamente todo o território do Couto Misto. Os negociadores portugueses propuseram mas não conseguiram impor a fronteira pelo rio Salas. Esta solução teria sido a mais justa, como se verificou com a escolha da nacionalidade pelos habitantes dos povos promíscuos e do Couto Misto. O termo ou Terras da Piconha deixou de ser território efetivamente sob administração portuguesa com a entrada em vigor do Tratado de Limites em 1866.
Na administração eclesiástica, Tourém pertenceu até ao princípio do século XIX à Diocese de Ourense, na Galiza. Muito antes do foral, em 1065, houve uma escritura de doação de bens ao Mosteiro de São Salvador de Celanova, na comarca galega da Terra de Celanova. Hoje em dia a Paróquia de Tourém pertence à Diocese de Vila Real.
Mapa de Tourém, Randim e Couto Misto

Tourém dispõe de um Polo do Ecomuseu do Barroso, na antiga Corte do Boi. Neste polo está apresentado o Couto Misto, a questão do contrabando, dos exilados políticos e da relação transfronteiriça.
O Forno do Povo de Tourém é um forno comunitário que foi construído em 1868, conforme data marcada na pedra da ombreira de um nicho interior, embora o tipo de arquitetura indique uma construção mais antiga.
A Igreja de São Pedro, a matriz de Tourém, é uma igreja de fundação tardo-medieval, provavelmente do século XIII, mas com trabalhos de restauro quinhentistas, para além obras de manutenção e restauro em outras épocas. No foral da Piconha, dado por D. Manuel I em 1515, é estabelecido o foro a pagar pela igreja de São Pedro de Tourém. A austeridade decorativa da Igreja de São Pedro, e sua a tipologia, indiciam uma influência do modelo cisterciense do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, na freguesia vizinha de Pitões das Júnias.
A explicação da Porto Editora para o topónimo Tourém é a seguinte:
Do baixo-latim [Villa] Teodoreti, 'a quinta de Teodoreto'. Tem a variante Tourei e os derivados Tourão, Touroa e Tourões.

Referências

Foto: Tourém e o vale do rio Salas. Autor: CorreiaPM. Domínio público.
Mapa de Tourém, com Guntumil e Randim: http://sig.cm-montalegre.pt/MunWebGis/Viewer.aspx?serviceName=pdm
Mapa de Tourém, Randim e Couto Misto: http://www.planeamentourbanistico.xunta.es/siotuga/visor.php?hc_location=ufi

Ortografia oficial dos topónimos galegos: Muíños, Calvos de Randín, Couto Mixto, Santiago de Rubiás, Rubiás dos Mixtos, As Maus / Meaus, Picoña, Vilariño, Randín, San Salvador de Celanova.

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